Com 16 anos saiu de casa, mudou-se para Los Angeles e passou a conviver com artistas locais, o que lhe proporcionou contato com músicos como Flea, o baixista de sua futura banda, os Red Hot Chili Peppers.
Foi logo após uma jam entre Flea, Frusciante e o ex-baterista dos Dead Kennedys, D.H. Peligro, que o baixista convidou o garoto-prodígio a integrar o cargo deixado pelo falecido Hillel Slovak. Influenciado principalmente pelo punk de bandas como Black Flag e The Clash e por guitarristas mais expressivos como Jimi Hendrix e Jimmy Page, John trouxe aos Peppers um misto de suas influências devidamente adaptadas para o funk californiano, bastante direcionado pelo estilo deixado por Slovak, de quem sempre declarou ser fã assumido. Sua chegada à banda foi o primeiro passo para que o quarteto começasse a galgar degraus rumo ao mega-estrelato, além de marcar a repentina mudança na história de seus dezoito anos.
Red Hot Chili Peppers
"Mother's Milk", disco em que estreiou, rompeu as barreiras do underground e transformou os Red Hot Chili Peppers em candidatos à nova grande banda a habitar o universo do mainstream. Faixas como "Higher Ground" e "Knock Me Down" (homenagem à Hilel Slovack) eram a trilha ideal para que os californianos exercessem sua postura descolada aos olhos do público. Tanto que, quando entraram em estúdio para gravar o sucessor de "Mother's Milk", receberam uma quantia considerável da gravadora Warner para deixá-los confortáveis o suficiente para criar "o" disco. E foi exatamente o que a banda construiu.
"BloodSugarSexMagik", de 1991, foi o álbum que jogou a banda nas alturas, local de onde nunca mais saiu. Recheado de funk e estilo, os rapazes conseguiram sintetizar todas as qualidades que tinham como quarteto, entregando um disco com muito feeling, atitude e amadurecimento sonoro, um clássico do rock'n'roll. Fruscianteconcentrou-se nas guitarras intuitivas, inaugurando uma série de timbres e características que tornariam-se marcas registradas em sua música, ponto fundamental na consagração artística e reconhecida qualidade musical do novo disco.
Fundo do poço
Já eventual usuário de heroína durante a turnê de "Bloodsugarsexmagik", o guitarrista anunciou sua imutável decisão de abandonar o barco, fazendo um último show no Japão sob apelo da banda. Assim que liberado, John retornou para a California, onde entregou-se à reclusão e ao uso constante de heroína, fato que veio determinar os seis anos seguintes de sua vida. Ele raramente saia de sua mansão (a mesma onde os RHCP gravaram o álbum Bloodsugarsexmagik), chegou a dedicar-se brevemente à pintura e à música de forma pessoal, buscando uma saída para seu vazio existencial.
Seu álbum de estréia em carreira solo, "Niandra LaDes And Usually Just A T-Shirt" saiu pela gravadora de Rick Rubin, American Recordings, em 1994, composto por faixas gravadas em simples gravadores de 4 trilhas dos tempos de "Bloodsugarsexmagik". O material mostrava um John diferente do até então conhecido, sua música abrangia tortuosos caminhos experimentais, claramente conduzidos pela influência do uso de químicos. A música estruturada de antigamente saiu do foco e tomava espaço a gravação de melodias desconexas, solos invertidos, sujeira e vocais inteligíveis. A música era para ele e mais ninguém, o que confirmava dificuldade de encaixar seus âmbitos artísticos no formato convencional exigido pela banda que abandonara.
John largou a música e os pincéis, passando os dias trancado em casa, vivendo as alucinações que a heroína lhe proporcionava. Sua mansão em Los Angeles era reduto de figuras recrimináveis em meio à uma grande bagunça - as paredes grafitadas mencionavam mensagens do tipo "Meus olhos doem". O local de odor pútrido e ambientação obscura teve de ser abandonado quando o dinheiro não mais existia para cobrir o seu aluguel.
John passou a viver em hotéis, sem paradeiro fixo, uma vez que era expulso dos estabelecimentos quando não conseguia cumprir com os compromissos. Quando sua renda estagnou, recebeu a oportunidade de lançar um novo disco solo através do selo independente Birdman, de David Katznelson. Frusciante viu na verdade uma chance de arrecadar mais dinheiro e manter seu vício em heroína. "Smile From The Streets You Hold" saiu em 1997, com material oriundo de sessões do disco-solo anterior e outras sobras (gravação de John aos dezessete anos e algumas participações obscuras de seu já falecido amigo River Phoenix), uma vez que o artista não vinha produzindo música há algum tempo. O disco carregou consigo uma áurea maldita, ainda mais obscuro e dilacerado que seu antecessor, traduzindo como poucos discos a lamentável situação psíquica em que se encontrava seu criador. John possui várias cópias desse cd em sua casa, pois tem vergonha deste trabalho, segundo ele mesmo, o álbum só serviria para sustentar seu vício com a heroína.
A escolha de John deixou sua condição moral e física no limite, sendo que, no auge do declínio, John já não tinha mais dentes, extraídos para evitar uma infecção fatal em seu corpo. Sua falta de higiene e total abandono de seu corpo esquelético retratavam a condição lastimável de usuário de drogas... Suas tatuagens foram distorcidas pelos abcessos resultantes do uso imprópio de agulhas. Seus cabelos já quase não existiam e suas unhas faziam parte do passado. Ele já não consumia mais alimentos sólidos, reduzindo sua dieta a substâncias líquidas geralmente utilizadas por doentes e idosos.
Estes lamentáveis fatos vieram à tona em uma reportagem do jornal L.A. Times, em que Frusciante se deixava retratar indiscriminadamente pelo repórter, e justificava sua escolha de vida, pela oportunidade que a droga lhe concedia para entrar em contato com "outras dimensões". Declarava-se pronto para a morte, incapaz de reconhecer-se como indivíduo longe da heroína, que, segundo ele, "dava-lhe aquele brilho nos olhos". Foi o passo final para que pessoas de fora fizessem-no mudar de rumo.
Volta por cima
Quando o respeitado guitarrista dos Red Hot Chili Peppers Dave Navarro abandonou a banda em 1997, o espaço mais instável do quarteto mais uma vez precisava ser preenchido. Flea, ciente dos esforços concentrados em John para que o mesmo abandonasse seu vício em clínicas de reabilitação, reaproximou-se do ex-guitarrista e sugeriu a possibilidade de seu retorno e conseqüente reunião do que foi a melhor época da banda. Os Chili Peppers vinham de um álbum irregular, "One Hot Minute", buscando uma peça que lhes garantisse estabilidade. John recebeu a proposta como uma nova oportunidade de reencontrar suas aspirações musicais, de recuperar-se como indivíduo e resolver os problemas financeiros criados a partir de seus anos errantes.
Em 1998 a Warner Bors. lançou "Californication", um grande sucesso comercial dos Red Hot Chili Peppers. O novo disco popularizou ainda mais o quarteto, graças às melodias acessíveis e abordagem radiofônica de muitas músicas. Com técnica bem mais simplória, as guitarras apostavam firme no lado emocional, fazendo com que a música funcionasse ao mesmo tempo comercialmente e artisticamente. Daí para diante, o seu trabalho nos Peppers destacou-se pela abordagem iluminada em canções notoriamente pop, transcorrendo pelo funk e pelas baladas certeiras.
Renovado e reconfortado pela aprovação de seu trabalho em "Californication", sua veia artística paralela foi devidamente nutrida quando a Warner concedeu-lhe a oportunidade de lançar seu terceiro disco solo, chamado "To Record Only Water For Ten Days". Longe da atmosfera sombria e esquizofrênica de seus dois discos anteriores, o novo trabalho revelava uma faceta até então desconhecida do rapaz.
Ainda adepto do lo-fi (o disco é uma coleção de canções em 8 canais), as músicas trafegavam por um curioso caminho pop, construído com guitarras, teclados e bateria eletrônica. Com sua voz combalida e dicção atrapalhada, ele finalmente cantava letras coerentes que primavam pela excelência melódica, assim como a estrutura de suas músicas. O disco que revela todas suas genialidades musicais, em um formato áspero e pela escolha da produção insignificante, mas igualmente belo pela concepção das canções. Frusciante teve espaço total para explorar seu brilhantismo,em uma linguagem acessível para os ouvintes de rock e reconfortante para seus anseios pessoais.
Após mais um período de sucesso massivo no Red Hot Chili Peppers (o disco "By The Way", de 2001, repetiu o êxito de "Californication" e apresentou novidades sonoras do quarteto), John entrou em estúdio para gravar seu quinto disco solo, "Shadows Collide With People". Lançado em fevereiro de 2004, o álbum apresentou diferenças significativas na maneira como foi conduzido e no formato que pretendeu assumir. Pela primeira vez, contou com a parceria de outro músico (Josh Klinghoffer) e com participações externas (Flea, Chad Smith e Omar Rodriguez-Lopez). O som rudimentar foi substituído por músicas bem produzidas e meticulosamente dimensionadas, sugerindo que a carreira solo poderia tomar rumos mais populares. Bem recebido pelos fãs, principalmente os de sua banda "oficial", o álbum serviu como um convite para que um público maior descobrisse as melodias irresistíveis de Frusciante.
Projetos Experimentais
A escapada para um ambiente mais convencional encerrou rapidamente, quando alguns meses depois seu website John divulgou um plano audacioso: seriam lançados seis novos títulos em sua discografia, num espaço de seis meses. Dessa vez, a Record Collection, uma subsidiária da Warner Bros., acolheria seus lançamentos.
"The Will To Death": primeiro da série, mostrando que Frusciante era um caldeirão de idéias. Este álbum é calcado nas sonoridades 70's, com clara influência de artistas como a cantora Nico.
"Automatic Writing": com participações de Joe Lally (Fugazi) e Josh Klinghoffer , possui muitos trechos instrumentais apostando nos climas e na experimentação, fruto de sua recente identificação com a música progressiva.
"DC EP": com produção do lendário Ian MacKaye, da banda Fugazi, o pequeno EP vinha com uma proposta um pouco mais simples, com uma interessante produção terceirizada.
"Inside Of Emptiness": é o projeto mais pesado e rock'n'roll. Riffs aos borbotões, muita aspereza e corrosão.
"A Sphere In The Heart Of Silence": mostra toda a influência de artistas eletrônicos como o Kraftwerk, além de um de seus principais interesses: os sintetizadores. O resultado em vezes se aproxima da fase Kid-A do Radiohead.
"Curtains": é a cartada final do projeto. É um disco acústico, recheado de violões e, principalmente, vocais em diversas camadas, com letras bastante melancólicas e prrimorosas melodias.
John Frusciante pode hoje em dia representar pouco para muitos fãs da banda Red Hot Chili Peppers e talvez não seja tão reconhecido porque ainda está vivo, e no mundo do rock mais vale um morto do que 10 vivos...
Então antes que John faça parte da constelação que já ocupa o universo, temos que aproveitar seus momentos de criação e adicioná-los em nossas vidas como mais uma lição: de que podemos errar como sempre erramos, mas que também aos poucos podemos ter de volta toda nossa energia e compartilhá-la com aqueles que permanecem ao nosso redor, com um simples instrumento na mão ou uma idéia.
Fontes : Muzplay - Coluna Kick Out The Jams (Adriano Moralis) ; Dying Days (Vicente Moschetti)
2 comentários:
O john ao meu ver é o melhor guitarrista. Quando eu digo guitarrista não é aquele que simplesmente entra no palco, ou em algum outro lugar diante de um público, e toca, mas sim pela sua história. O cara, se não me engano, treinava mais de 10 horas por dia. Sim errou em ter usado heroína, mas todo mundo erra. Estou muito triste por ele ter saido da banda...Espero vê-lo tocando novamente em suas obras solo.
John além de um ótimo guitarrista é uma ótima pessoa, as drogas foram uma fase da vida dele que espero que não volte mais. Os trabalhos solos dele são realmente incríveis, ele tem muito talento. Enquanto a saída dele do Red hot.. quem sabe ele não volta de novo né?!
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